O negócio não pode parar

Ator dramático, super-herói, galã romântico, astro da Broadway, apresentador do Oscar e cara legal: não há artista, hoje, que reúne mais credenciais que o australiano Hugh Jackman para protagonizar  um filme intitulado O Rei do Show já em cartaz no país. Produção opulenta com canções feitas para atores como Zac Efron, Micelle Williams, Rebecca Ferguson e Zendaya soltarem a voz, o musical recria, com amplas liberdades dramáticas, a trajetória de P.T. Barnum, figura tão fascinante quanto controversa que marcou a história americana a partir dos 1840. Com seus shows de aberrações, espetáculos de circo e golpes publicitários, Barnum é um pioneiro de invenções que estão na corrente sanguínea da cultura pop: o factoide, a autopromoção e o marketing. 
Dirigido pelo estreante Michael Gracey e roteirizado por Bill Condon, O Rei do Show é deliciosamente compensador como musical, apesar de - ou pelo fato de - preferir a versão simplificada de Barnum, a do garoto pobre que desde pequeno sonhou grande, e que se vingou do desprezo com o sucesso. Mesmo o lance que tornou Barnum célebre - o circo com mulher barbaba (a ótima Keala Settle), anões e homens tatuados ou obesos - é tratado pelo viés simpático da inclusão dos marginalizados. O Barnum verdadeiro, porém, foi um oportunista que bem antes dos 20 anos já começara a fazer fortuna com seu dom para criar negócios onde outros só viam problemas ou riscos, e que teria dito que "ninguém jamais perdeu dinheiro subestimando o gosto do público americano"(atribui-se a ele, ainda, o dito de que "a cada minuto nasce um novo idiota"). Por mais prazeroso que se O Rei do Show, também esse Barnum não tão edificante mereceria seu próprio filme.

ISABELA BOSCOV - VEJA 

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