Baterista que cantava, Wilson das Neves sai de cena no Rio aos 81 anos

Se Chico Buarque sair em turnê com o show do recém-lançado álbum Caravanas, o cantor não poderá mais contar com a maestria do baterista Wilson das Neves (14 de junho de 1936 – 26 de agosto de 2017) na banda. Das Neves morreu na noite de ontem, vítima de câncer. Estava internado em hospital da Ilha do Governador, bairro do Rio de Janeiro (RJ), cidade onde o artista nasceu há 81 anos e onde se tornou conhecido no meio musical como músico e, depois, como cantor e compositor.

Até os 60 anos de vida, o carioca Wilson das Neves era conhecido no universo da música brasileira como o excepcional baterista que tocava com ícones da MPB como Chico Buarque, cuja banda integrava desde 1982. Ele era o baterista cheio de suingue que chegou a gravar e assinar com Elza Soares um álbum lançado em 1968 pela gravadora Odeon, em fase áurea da cantora. O baterista nunca saiu dos palcos e dos estúdios, mas virou cantor aos 60 anos.

Em 1996, o artista se lançou como cantor com o aclamado álbum O som sagrado de Wilson das Neves. Neste disco, Das Neves apresentou O samba é meu dom – parceria com Paulo César Pinheiro que se tornou um clássico com o passar dos anos – e gravou com Chico Buarque, parceiro e convidado da música Grande hotel. De lá para cá, foram mais três álbuns – Brasão de Orfeu (2004), Pra gente fazer mais um samba (2010) e Se me chamar, ô sorte (2013) – como cantor e compositor, parceiro de bambas como Nelson Sargento, Aldir Blanc, Chico Buarque e o recorrente Paulo César Pinheiro.
 Querido em todo o meio musical, Das Neves também integrou desde 2003 a Orquestra Imperial, big-band carioca formada por músicos bem mais jovens do que ele. Mas que o tratavam com a jovialidade que caracterizava a personalidade de Das Neves, conhecido pelo bordão "ô, sorte!". A carreira de ritmista, longeva, foi iniciada na década de 1950 como baterista na orquestra de Permínio Gonçalves. A partir dos anos 1960, Das Neves se tornou requisitado músico de estúdio – a ponto de ter gravado as baterias do antológico álbum Coisas (1965), do maestro Moacir Santos (1926 – 2006) – sem deixar de exercer o oficio de baterista em bailes animados pelos conjuntos de nomes de Ed Lincoln (1932 – 2012).

No fim dessa década de 1960, quando já tinha o próprio conjunto, Das Neves lançou os álbuns Juventude 2000 (1968) e Som quente é o Das Neves (1969), tocando nestes discos músicas então recém-lançadas de Caetano Veloso (Irene), Gilberto Gil (Domingo no parque), Jorge Ben Jor (Zazueira) e Roberto Carlos & Erasmo Carlos (Se você pensa). A discografia do artista se manteve nessa linha ao longo dos anos 1970, década em que se lançou (ainda timidamente) como compositor em outro álbum intitulado O som quente é o do Das Neves e editado em 1976. Mas foi somente em 1996, 20 anos mais tarde, que Wilson das Neves se firmou como compositor e virou cantor. Sem nunca deixar de ser requisitado pelo som sagrado que tirava da bateria. Quem conviveu e tocou com ele repete o bordão: "ô, sorte!".

G1

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